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Delírios do Acreano Cotidiano #2

Atualizado: 9 de jul. de 2018


Cia ENTRE OUTRAS MERDAS apresenta:


QUANDO OS MORTOS GRITAM SEU NOME


Ando pensando muito nessa coisa toda de que, o que os olhos não vêem o coração não sente, isso é tudo conversa pra boi dormir, sempre haverá espertalhões por esses pastos dispostos a atravessar a cerca em busca do capim mais verde, há quem procure chifre na cabeça de cavalo também, se tu não vês não entende, aceito o risco sabendo que quaisquer que sejam as conseqüências, tudo será resultado de escolhas. Perda do eu, encontro do outro. O distanciamento dos teus olhos dos meus. Tudo nessas circunstâncias parece-me, ao mesmo tempo, nada. São apenas pensamentos, digo ao espelho com os olhos incertos refletindo infinito descontentamento, corpo profano volúvel sagaz, o silêncio invadindo a boca de ouro pelo sopro quente, que se fez o desejo de pertencimento. Como uma criança que cala o choro no colo da mãe, queria me esquecer dentro da caixinha que bate no teu peito, eterna moradia sem porta, janela, tapete, entrada, nem nada. Descerei as escadas de mármore, calcário rolando ladeira. Mas metade de quem eu era havia desaparecido ao olhar fundo dentro dos próprios olhos, agora, rasos imprecisos e vazios. A ausência dele era como se existissem milhões de vasos pintados sem flores. O silêncio podia até dizer muito, mas não doía tanto quanto a falta que ele fazia. Marcado no corpo toda subversão de um amor efusivo. As coisas acabam naturalmente, sejam elas pela falta ou por excesso, tudo parece seguir seu caminho, a vida sempre cheia de razão, a desordem e o caos que percorrem soltos ziguezagueando pelo vai e vem da realidade imediata do cotidiano e das imaginárias. Antes a causa disso fosse o acaso, era sem dimensão, inexprimível. Caos era tudo o que sentia com razão dos sentidos.


Faz semanas que já não te vejo, monamour

mestre, princeso

meu amigo

xodozinho, brother

meu bem

paixão, flor do dia

meu querido...


Olho para o reflexo no espelho e o que vejo é você refletido, espelhado no meu desenho, delineado sob as minhas negras linhas, mas você não me vê. Faz tempo que não vê nada além do seu eu de agora. Estes versos anódinos desaparecerão, exímio te conheço, se o de antes e o de agora, pungente e efusivo, te penso. Vi em algum lugar por aí, que nossa lua pode ter sido gerada após uma grande eclosão de um ovo cósmico que ficava dependurado na teia do espaço. Não era tão belo como os teus, e que palor se te penso os gomos ainda frescos pela manhã, só se for assim, no pensamento mesmo, porque a realidade é outra. Que doidera isso! Que posição em desvantagem é estar mal disposto. A luz que a lua irradia não é tão densa como a luz dos teus olhos, mas cega tanto quanto. Alguém mais viu quem saiu sem desligar a luz? Domingo é sempre a mesma tortura, os gatos no cio miando um miado fino, ensurdecedor, anunciam a agitação nos nervos de quem a essa hora, tenta diluir no álcool todas as mágoas que guarda sossegado durante o dia, no quartinho a cortina de fumaça levanta, fuma até a cabeça dos dedos, agora o latido dos cachorros e suas conversações um pouco mais diferentes do latim, a cantoria desvairada dos grilos, o freio dos carros que param e passam pelos quebra-molas por aqui... Tudo vai acontecendo num lapso de tempo cada vez mais curto. Os pensamentos, as gentes, os carros, as sensações, os dias e noites, o som transmutado em silêncio ensurdecedor, os passos... Não passa mais do que o necessário de tempo pra se viver a vida como ela é. Exígua, crua, e assim, não seria cruel da parte dela? Das outras também. Crueldade não tem tamanho e o amor não tem preço. Está acontecendo agora mesmo, enquanto escrevo esta nota, perco a noção do tempo ao mesmo tempo que ganho algo em troca Dela, e os pensamentos não perdoam. Só Deus perdoa e o perdão só existe para quem acredita no pecado. O único pecado que realmente existe é resistir à provocação experimental do exercício de liberdade, celebrando a vida, o amor e a arte. Vocês realmente acham que estamos em controle? Posso acreditar no balanço e no equilíbrio, mas em nada tão absoluto. Controle só se for o da tevezinha que tu tem (se tiver, mas quem não tem um tevê hoje em dia, no Brasil é mais fácil ter TV do que educação, por exemplo... e a quem poderíamos depositar essa culpa, né? esse assunto fica pra outra hora) Ou estaria cego em busca por controle? Possivelmente eu seja realmente louco, talvez, mas um louco mais lúcido que muita gente que diz ser normal normalmente por aí... mente tão descaradamente que o cú nem sente. Enfim, não vou mais entrar em assuntos mais profundos como este de cú e mentiras, ta ficando cansativo isso tudo. É a vez de o meu pai usar o banheiro pra fazer algo bem mais útil do que eu aqui escrevendo essas baboseras: pra cagar gostoso depois de mais um dia exaustivo.

p.s: TUDO VIRA MERDA!!!


(A/B - Vitor Araújo)

(Orange Lady - Miles Davis)
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