Até daqui a pouco, verão...

Veio e já está indo embora, esse safadinho que chega chegando e sai sem nem dar tchau. Quando o inverno aterriza por aqui, tenho várias histórias pra contar do verão, a maioria delas conto chorando ou bebendo. No início parece que não vai acabar nunca, os dias ficam esticando o tempo feito goma. As primeiras chuvas caem só pra levantar o mormaço do asfalto quente, se você está no inferno da cidade, é claro, porque se estiver no conforto do cafofo de vovó, como eu estava no último final de semana, jogado nos braços da Mãe-da-mata, espaçoso, dilatando-me em cima de uma rede, efuso dentro de mim, tudo fica mais tranquilo. Independente do lugar, penso logo em ti. Me dá arrepios te pensar perto com os pensamentos longe, fora de alcance da minha imagem refletida na tua, dos teus abraços imaginados se rendendo em momentos de pura solidariedade ao meu desejo de pertecimento que se fez, de te pertencer não só no verão, nesse vem e vai, pois tudo que diz respeito a você é importante, fica. No mais, os dias se tornam vazios, mais longos do que o céu, refletindo descontentamento e solidão.

Estou entupido até a garganta de perguntas sem respostas. Encaro-as com um grande sorriso duvidoso. Não pensava mais em encontrá-las. Elas me encontraram. Fui invadido de sentimentos desconhecidos. Não tenho tempo sobrando pra gastar em busca de respostas que não mudarão coisa alguma, de sensações vazias que saem roendo pelas bordas e me deixam escapolir pelos dedos escorregadios da mão de judas: "Disparo contra o Sol / Sou forte / Sou por acaso..."; Aproveitarei tudo até o fim, não deixarei escapar nada. A vida tem sido impiedosa, mas boa, e assim espero que seja por algum tempo.

Até daqui a pouco, verão... Tchüss!

(Choveu - Jussara Silveira)

ZORONGO

Federico García Lorca

Las manos de mi cariño te están bordando una capa con agremán de alhelíes y con esclavina de agua. Cuando fuiste novio mío, por la primavera blanca, los cascos de tu caballo cuatro sollozos de plata. La luna es un pozo chico, las flores no valen nada, lo que valen son tus brazos cuando de noche me abrazan.